“Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro” é Património Cultural Imaterial Nacional

Estarreja prepara-se para lançar curso profissional

sábado, 17 de dezembro 2022


A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) inscreveu “como registo de salvaguarda urgente” o «Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, conforme despacho publicado no dia 15 de dezembro, em Diário da República. 

A construção do Barco Moliceiro insere-se na tradição da arte de construção naval tradicional, com origem na Região de Aveiro, sendo que este tipo de embarcação foi inicialmente criado e utilizado para a apanha do moliço, uma das mais importantes atividades económicas que a região conheceu durante várias décadas.

Após um declínio no número de embarcações devido ao abandono da prática da apanha do moliço, atualmente o Barco Moliceiro é utilizado para a atividade turística, transição que permitiu evitar a sua perda. Ainda assim, tem sido difícil captar novos profissionais que possam assegurar de forma continuada esta arte. 

Assim, a DGPC reconhece a necessidade de salvaguarda urgente a este saber-fazer, que atualmente é apenas praticado de forma regular por cinco mestres construtores e por um pintor de moliceiros, sedeados nos concelhos de Estarreja e Murtosa, não se tendo conseguido atrair novos aprendizes nos anos mais recentes. 

No Município de Estarreja, a arte da construção naval ainda ganha vida pelas mãos dos mestres construtores António Esteves, Arménio Almeida e Felisberto Amador, da freguesia de Pardilhó, "terra da ria e berço de centenas de construtores navais de machado e enxó", e que foram homenageados com a Medalha de Mérito Municipal em 2019.

“António Esteves, Felisberto Amador e Arménio Almeida são os sobreviventes dos tempos áureos das embarcações em madeira, regulados pela arte e pelo ‘pau de pontos’ – o instrumento mágico da construção naval lagunar com cerca de 1,50m de comprimento que tem marcadas todas as medidas necessárias à construção dos barcos. Os três pardilhoenses representam todos os construtores navais que outrora com o seu trabalho e dedicação engrandeceram a arte da Construção Naval no Concelho de Estarreja, conservando um património material, imaterial e cultural que urge preservar e proteger”, sublinhou na altura o Município estarrejense (vídeo de homenagem).

Estarreja lança curso de construção naval 

Estarreja mantém o seu compromisso em defesa desta manifestação cultural e está prestes a lançar um curso de formação profissional “Atividades Marítimo-Turísticas e Construção Naval” a decorrer no Centro de Interpretação de Construção Naval, localizado na Ribeira da Aldeia, Pardilhó.

O pedido de registo do referido saber-fazer foi submetido em 16 de março de 2022 pela CIRA - Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro que, para além do trabalho de investigação para aprofundar o conhecimento desta arte, elaborou um Plano Estratégico de Salvaguarda a 10 anos (2022-2032), essencial e exigido pela DGPC para a inclusão no Inventário. O reconhecimento nacional da importância da salvaguarda deste património representa um passo fundamental para a classificação futura como Património Mundial Imaterial da Humanidade.

O público pode, a partir de agora, ter acesso online na plataforma MatrizPCI (http://www.matrizpci.dgpc.pt/) à documentação que caracteriza este “saber-fazer”, o qual requer um grande conhecimento dos materiais e das técnicas tradicionais, transmitido intergeracionalmente.