O Foral de Antuã fala de pessoas, de terra, de água
Comemorações dos 500 Anos honram memórias e história local
Cultura, património, memórias, gastronomia, povo. São elementos indissociáveis da identidade e singularidade de uma terra. Nas comemorações dos 500 Anos do Foral de Antuã, que tiveram lugar no último fim de semana, o Município de Estarreja reatou ligações ao passado, valorizou o património local - material e imaterial, cultural e natural - e homenageou os que lutaram em nome da Pátria.
Assim nasceu o concelho de Estarreja
Partindo da atribuição do Foral de Antuã, o programa comemorativo contribuiu para que os estarrejenses melhor conheçam a sua história local.
Conforme é explicado na Exposição “Estarreja: Simbiose de Terra, Povo e Água”, que pode visitar na Casa da Cultura, “o Foral de Antuã, concedido por D. Manuel I e datado de 15 de novembro de 1519, libertou as Terras de Antuã do domínio feudal, estabelecendo uma nova organização do território, da economia e da justiça, dando maior liberdade e privilégios aos seus habitantes. A base para o surgimento do Concelho de Antuã (e mais tarde Concelho de Estarreja), foi a atribuição do Foral de Antuã.”
Documento-monumento
Foi precisamente no dia 15, na abertura das comemorações, que se fez uma “chamada de atenção para a importância que este documento-monumento tem porque é uma memória histórica de Antuã-Estarreja”, afirmou a historiadora medievalista Maria Helena da Cruz Coelho, assinalando que existem “documentos que nos permitem reconstituir o Foral, uma vez que o original não é conhecido, apenas o registo na Torre do Tombo e traslados do desenvolvimento completo do Foral”.
Os documentos são memórias de uma vida e o Foral de Antuã “plasma uma série de especificidades próprias de Antuã que era, em si mesmo, já de uma grande especificidade uma vez que era um conselho senhorial porque pertencia ao Mosteiro de Arouca e às abadessas de Arouca, que possuíam este concelho. Trata-se neste caso concreto de uma articulação entre poder régio, senhorial e local”, ao mesmo tempo que capta retratos da vida de há 500 anos.
Banquete Real com duas centenas de pessoas
A comunidade foi envolvida em diversos momentos e convidada a participar, fomentando-se o sentimento de pertença e o orgulho em ser estarrejense.
O Banquete Real, na noite de sábado, é um bom exemplo. Os workshops de dança medieval, teatro e gastronomia abriram as portas à participação dos estarrejenses no processo de criação. Um dos participantes no grupo de dança, José Abreu, estava muito satisfeito por poder “entrar em contacto com algo do passado bastante interessante. Foi uma experiência bastante gratificante para mim”.
Entre as 200 pessoas que entraram na máquina do tempo para recuar ao ano de 1519, estava Olga Fial. Garantiu que a iniciativa “foi espetacular. Gostei imenso. A Câmara Municipal foi espetacular nesta vivência dos 500 anos do Foral.”
Aires Castro, do Rancho Folclórico “As Tricaninhas do Antuã”, que o Município desafiou para servir o menu do Banquete, com orientação do Chef Ivo Loureiro, ficou admirado com a afluência do público.
Também os restaurantes do concelho - Amor não me deixes, Adega do Emídio, Cozinha da Terra, Dom Vendaval, Marcolino, O Mercado, O Pires, Xixas - aderiram ao convite para servir um cardápio quinhentista durante o fim de semana.
13 anos a recuperar da história local
A tarde de sábado foi profícua na recuperação de memórias e na recordação da história local “para que não se apague da nossa memória coletiva, um passado que apreendemos e que temos consciência de ser nosso dever transmitir às gerações futuras”, sublinha no editorial a diretora Revista Terras de Antuã – Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, Rosa Maria Rodrigues.
A apresentação do 13.º volume encheu o Salão Nobre dos Paços do Concelho. Nesta edição, ao longo de 344 páginas, 15 artigos refletem o trabalho de 24 autores. Fala-se de arqueologia, património industrial, emigração, guerra colonial, cultura popular ou da Ria de Aveiro. Na capa da revista, o devido destaque ao documento do Foral de Antuã.
Obrigado ao “Soldado Estarrejense”
O Monumento de Homenagem do Município de Estarreja aos Combatentes do Ultramar (1961-1974), foi inaugurado no Largo da Estação da CP, com a presença do Presidente da Câmara Municipal, Diamantino Sabina, e do Secretário geral da Liga dos Combatentes, Coronel Lucas Hilário, e de Combatentes e estarrejenses que se associaram a este momento evocativo.
“Os Estarrejenses, como toda uma geração de mais de uma década, doaram parte da sua juventude a uma Guerra Colonial que hoje parece distante e apenas servir de motivo de conversa saudosista, mas foi guerra que existiu e marcou, deixando cicatrizes fechadas ou feridas ainda abertas”, transmitiu o porta-voz de um grupo de Combatentes de Estarreja, José Fernando Correia, que esteve ao lado da Câmara Municipal nesta iniciativa.
Acrescentou que “quando em momentos como o de hoje, as Lideranças atuais entendem a justificativa de recordar os Combatentes do Ultramar filhos do seu Concelho, e neles todos os outros, de uma forma simbólica mas com marca física e perene, o Soldado Estarrejense olha para trás, no mesmo local de onde há meio Século partiu, e renova a Esperança de que esse sacrificado Passado possa ter ajudado a forjar uma Sociedade presente, que lhe valorize o discreto estoicismo e sacrifício”.
“Passaram 45 anos sobre o fim da guerra, mas não esquecemos o profundo sacrifício que representou para as Famílias Portuguesas, onde se incluem obviamente as Famílias Estarrejenses. Aliás, este é um momento da nossa história que não esquecemos” e nesse sentido “cumprimos um elementar ato de justiça, que perpetua neste local simbólico, em frente à Estação de Caminhos de ferro, o reconhecimento do Município de Estarreja a todos os militares”, afirmou Diamantino Sabina.
Os mais novos foram chamados a participar
O Cine-Teatro Municipal foi outro dos palcos das comemorações com o concerto da Bando de Surunyo e com a criação para a infância de Leonor Barata “Voar”, uma encomenda do Município de Estarreja no âmbito da Programação Cultural em Rede, inspirada no BioRia e nas espécies de aves que por ali passam. Esta peça voltou à cena na terça-feira com 4 sessões dedicadas ao público escolar.
Também os mais novos tiveram a oportunidade de ir “À Descoberta do Foral de Antuã”, numa ação do Arquivo Municipal para o 1.º ciclo.
As IV Jornadas do Património intituladas “A Construção da Cidade e da Cidadania: da Arqueologia à Arte Pública”, na Biblioteca Municipal, terminam esta fase da programação dos 500 Anos do Foral de Antuã.
Traslado do Foral terá Edição fac-simile
A Vereadora da Cultura da Câmara Municipal faz um balanço positivo das comemorações. "Ao desafio de produzir connosco a comemoração desta data tão marcante e histórica para o concelho de Estarreja, a nossa comunidade respondeu com a sua presença em workshops de teatro, danças medievais, em palestras, ficando a conhecer um pouco mais da nossa história local e da nossa identidade cultural, no Banquete Real, fazendo uma viagem no tempo até 1519, com muito boa disposição e alegria."
Isabel Simões Pinto destaca ainda a inauguração do Monumento de Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar. "Um momento vivido com grande emoção por todos os presentes e que perdurará no tempo e no espaço, lembrando sempre os heróis que lutaram pela sua pátria. Assinalámos esta data histórica de uma forma singela, mas com muito significado para os Estarrejenses!"
"Mas o trabalho de investigação histórica continua tendo em vista a edição fac-simile do Traslado do Foral, ou do seu original, caso apareça, entretanto, que será apresentado em 2020, ficando, desde já, o convite a toda a comunidade", adianta a Vereadora da Cultura.