Crasto de Salreu revela memórias do passado

Chegou ao fim a quarta campanha arqueológica no Crasto de Salreu que permitiu compreender como se comportam as estruturas encontradas anteriormente e ainda revelou novos artefactos e vestígios de ocupação no local.

terça, 28 de agosto 2018


Mais de 30 pessoas, entre arqueólogos, estudantes e voluntários oriundos de Espanha, Brasil e Alemanha, trabalharam arduamente durante 20 dias para melhor compreendermos os nossos antepassados e a região entre o Douro e o Vouga, na Idade do Ferro.

Novas escavações, novas descobertas

A arqueóloga Sara Almeida e Silva revela que durante quatro semanas estiveram a tentar desvendar e perceber estruturas que tinham sido encontradas em campanhas anteriores, como por exemplo, os alicerces de uma cabana no setor A, a zona habitacional do povoado. “Os trabalhos que temos feito comprovaram que este espaço foi usado em diferentes fases e de formas distintas. E ainda o local de assentamento da porta e um piso de argila decorado”, explica a investigadora.

Já numa outra área, a K, e depois de muitas horas de trabalho com muito pó e paciência à mistura, a equipa foi surpreendida quando se debruçavam na forma como a muralha, que já havia sido identificada, tinha sido construída. “Além da muralha, encontramos outras estruturas que estamos a analisar, que podem estar relacionadas com a ocupação da plataforma quer como zona habitacional ou até de oficina por termos encontrado escória de metal”, explica a arqueóloga do Centro de Arqueologia de Arouca.

Os artefactos são peças que são encontradas com frequência e que requerem uma investigação rigorosa que pode demorar vários meses. São de destacar os vestígios em material cerâmico e em pedra, essencialmente pesos de tear ou de suporte das coberturas das casas e, em especial, a grande coleção de contas de colar em pasta de vidro, que não eram produzidas no país, vinham nas rotas comerciais de importação do sul da Península ou do Norte de África, que se revelam importantes para perceber a relação que Salreu tinha com o resto da comunidade.

Uma equipa em busca dos nossos antepassados

Seria impossível obter estes resultados sem o apoio dos voluntários”, realça Sara Almeida e Silva.

E é com a dedicação e paixão destes voluntários que se dão grandes passos para a valorização do património que é de todos e para a compreensão da existência humana. Seja com uma pá ou até mesmo um colherim em punho, a curiosidade predomina nesta procura pelo conhecimento da nossa história. 

Miguel Pereira, voluntário pelo 3.º ano consecutivo, conta que “o gosto pela história e o desconhecido fez com que quisesse fazer parte desta equipa”. A primeira escavação em que participou tornou-se um ponto de viragem na sua vida. “A vontade de saber mais sobre arqueologia levou-me a terminar o 12.º ano e agora concorri ao Ensino Superior para frequentar o curso de arqueologia”, enfatiza o empresário de 42 anos.

Já Fabrício Sousa, de 21 anos e estudante de engenharia, revela que o que o mais surpreendeu nesta experiência foi perceber “que uma simples pedra pode contar um pouco dos nossos antepassados”.

Há ainda quem tenha decidido participar para concretizar um sonho de infância. “Sempre disse que queria ser arqueólogo. E ser parte integrante deste grupo permitiu-me aprender algumas técnicas e metodologias desta área”, relata o estudante de 17 anos, Dinis Costa.

Do país vizinho veio Raquel Rodriguez, estudante de arqueologia, que viu em Estarreja “a oportunidade única de colaborar numa escavação da época da proto-história”.

Em jeito de balanço, Isabel Simões Pinto, Vereadora da Cultura, refere ter sido “mais uma campanha de grande e entusiasmada participação de voluntários, de todo o país e do estrangeiro, o que claramente enaltece e valoriza a iniciativa e o nosso território, contribuindo para a preservação do património e da nossa memória local. Para além disso, os vestígios agora encontrados vêm enriquecer o espólio já existente e permitir que ‘se conte mais um pouco da história’ desta aldeia de há mais de 2000 anos”. 

Quanto a próximas campanhas arqueológicas no Castro de Salreu, Isabel Simões Pinto, certa da relevância deste projeto, destaca a “importância do estudo dos resultados das várias fases das escavações, que agora será realizado pelo Centro de Arqueologia de Arouca, e que depois servirá de base para a definição da estratégia de preservação deste património no futuro e prossecução na procura de vestígios.”