O mais antigo mestre carpinteiro naval da Ria de Aveiro abre as portas do seu estaleiro
Conversa à Volta da Construção Naval, com Mestre Esteves e Etelvina Almeida
E se uma designer e um carpinteiro de barcos tradicionais se juntassem para uma conversa informal à volta da construção naval? E se essa conversa acontecesse em ambiente de estaleiro, junto a uma ribeira da Ria de Aveiro? Vai acontecer amanhã às 16h30.
Cruzam-se olhares de duas pessoas de diferentes formações, experiências e gerações. Ele trabalha desde menino na arte de construção de barcos de madeira, sendo o mais antigo mestre carpinteiro naval da Ria de Aveiro ainda a laborar, hoje com 76 anos. Ela é designer, que na sua tese de mestrado defendeu o tema “Embarcações Tradicionais da Ria de Aveiro, um olhar pelo Design”.
A conversa (irresistível) está agendada para amanhã às 16h30 no Estaleiro do Mestre Esteves, na Ribeira das Bulhas, em Pardilhó. Mas quem quiser transporte, que a Câmara Municipal assegura desde o centro da cidade de Estarreja, pode comparecer às 16h junto à Biblioteca Municipal (inscrições online neste formulário).
“Iremos embarcar num barco moliceiro e vivenciar a passagem, ao longo do tempo, de uma das mais emblemáticas profissões da Ria de Aveiro, a construção naval tradicional, contada na primeira pessoa, pelo Mestre António Esteves”, antecipa Etelvina Almeida que vai conduzir a sessão.
“Será entre barcos, madeiras, moldes, ferramentas, serradura e pó que o mestre nos contará, de forma emotiva, passagens da sua vida repleta de peripécias e sempre ligadas à arte da construção naval. Da dureza e entrega total ao trabalho, à suavidade das linhas e performance das suas obras – os barcos e as bateiras tradicionais da Ria de Aveiro – o mestre levar-nos-á a navegar pela sua história pessoal e pelas tradições da nossa região.”
A iniciativa da Câmara Municipal de Estarreja está inserida no projeto "Cultura em Rede - Região de Aveiro" e nas comemorações do Ano Europeu do Património Cultural, tendo por objetivo a valorização do património tradicional, em especial de uma atividade económica que em tempos foi a mais significativa da história de Pardilhó, considerada a “Vila da Ria”.
Aliás, a importância do sector da construção naval foi atestada pela existência em Pardilhó do Sindicato Nacional dos Carpinteiros Navais do Distrito de Aveiro (abrangendo o de Coimbra), sede regional da corporação (1937-1977).
Nesta conversa entre memórias do passado e esforços do presente, a designer olha para o futuro com apreensão. “O saber transmitido ao longo de gerações e o adquirido pelas vivências pessoais, o da arte da construção naval tradicional será mais um elemento do nosso património imaterial que se perderá, se nada for feito para o impedir. Este mestre ainda se entrega com paixão à arte, mas até quando e a quem delegará o seu saber?”
Já o Mestre Esteves, um “apaixonado pelo moliceiro” que declara o seu “amor à arte”, confessava em tempos que “gostava que o meu neto aprendesse porque um barco destes daqui a 30 anos seria um espectáculo. Mas vai-se acabar…”, teme o carpinteiro.
“Sensibilizar e alertar para o fim de vida de uma arte, de uma profissão que tanto contribuiu para a economia local, enriquecendo o património cultural da região, será o mote” da conversa, salienta Etelvina.
Uma conversa à volta da construção naval para a qual estão todos convidados. As inscrições (gratuitas) ainda são possíveis de fazer por via deste formulário online.