Futuro da educação passa pelo ensino profissional

Indispensável e essencial. Foram duas das palavras mais ouvidas para descrever a importância do ensino profissional na economia e nas empresas da região. Mais e melhor ligação entre escolas e empresas foi outro dos focos do seminário “O Futuro do Ensino Profissional nas Empresas e na Economia da Região”, que reuniu várias entidades regionais e nacionais.

segunda, 26 de março 2018


O seminário “O Futuro do Ensino Profissional nas Empresas e na Economia da Região”, que decorreu no dia 19 de março, marcou a abertura da Semana da Educação e juntou vários players do setor entre os quais professores, associações empresariais, entidades formadoras e empresários. As várias entidades sentaram-se à mesa para debater a importância do ensino profissional na economia da região, mas também em Portugal.

 

Município de Estarreja perto de atingir o pleno emprego
 

Na sessão de abertura, o presidente da Câmara Municipal de Estarreja relatou alguns números que ilustram a realidade da região no que diz respeito à empregabilidade. Diamantino Sabina referiu que Estarreja “rondará os 6% de desemprego. Somos 27 mil e inscritos do IEFP são cerca de 770, portanto rapidamente vamos chegar ao pleno emprego”. O autarca não se dá por satisfeito no que concerne à formação profissional e incentivou a mesma, acrescentando que esta é uma via que “dá e poderá dar bons empregos”.

 

55% dos jovens de Estarreja já frequentam o ensino profissional

No painel da manhã, que abordou o futuro do ensino profissional, a representante da Agência Nacional para a Qualificação congratulou-se com a tendência na adesão ao ensino profissional. “Hoje em dia, este (ensino) está melhor do que há alguns anos atrás.” Ana Cláudia Valente acrescentou que “150 mil dos jovens do ensino secundário frequentam cursos de dupla qualificação, ou seja, terminam o 12º ano e podem ingressar no ensino superior, mas podem também inserir-se imediatamente no mercado de trabalho. Isto porque lhes é automaticamente conferido o nível 4 de qualificação, reconhecido tanto em Portugal como em qualquer país da União Europeia.”

 

Apesar de 42% dos jovens a nível nacional frequentarem o ensino profissional - média já superada em Estarreja -, há “a necessidade de fazer crescer na quantidade e na qualidade a oferta formativa e terminar com o desajustamento dessa oferta e as necessidades do mercado de trabalho”. Referiu ainda que “os Serviços de Psicologia e Orientação das Escolas devem começar a trabalhar com os jovens a partir do 7º ano” e que “as empresas devem contribuir para os currículos, para melhor responder às necessidades do mercado da região”.

 

Ainda muito para melhorar

Para António Magalhães Cunha, “todo o ensino é importante, nomeadamente o ensino profissional.” Ainda assim o professor catedrático alerta para uma problemática no ensino pós-secundário: “Há uma tendência do ensino politécnico em tornar-se universitário, o que é esquizofrénico”.

O ex-reitor da Universidade do Minho acrescenta que há grandes desafios na formação, uma vez que em algumas áreas a exigência é muito elevada. “Principalmente nos setores do tecido económico-produtivo, os níveis tecnológicos são muito elevados e por isso é necessária mão-de-obra com formação mais elevada e específica”.

 

Para José António Salcedo, ex-professor catedrático da Universidade do Porto, o ensino profissional deverá ser a trave mestra da formação das pessoas, mais do que o ensino universitário. O agora investigador e empresário adianta que o país precisa muito de bons profissionais no tecido económico empresarial e isso consegue-se mais facilmente através do ensino profissional.

“Defendo uma aposta forte nesta vertente do ensino, em que o saber fazer seja um fator de diferenciação”, acrescenta o António Magalhães Cunha.

 

Estigma cultural ainda é uma barreira

António Magalhães Cunha alerta ainda para algumas barreiras no que diz respeito aos complexos culturais que ainda existem relativamente ao ensino profissional. “Portugal é um país muito dividido no que diz respeito às profissões e há certos estigmas que teimam em não ser ultrapassados”.

 

Também José António Salcedo sublinha essa problemática. O investigador que reside na Noruega refere que esta é uma questão muito nítida em Portugal, uma vez que grande parte das famílias portuguesas considera o ensino profissional e politécnico como ensino de 2ª ou 3ª qualidade. “É obviamente uma ideia errada, mas com algum fundamento: há a perceção que os meios alocados ao ensino profissional são pobres, o que não deixa de ser verdade. Considero que é preciso fazer muito mais, nomeadamente um investimento mais sério no ensino profissional para conseguir alterar essa perceção cultural.”

 

Para António Magalhães Cunha o ensino profissional em Portugal é, na sua generalidade, “mais fraco do que deveria ser”, mas está a dar “passos na direção certa”. É essencial estimular todos os alunos para que desenvolvam capacidades que têm a ver com o seu carácter, como eficácia em linguagem, resiliência e atitudes (comportamentos automáticos) orientadas à criatividade, pensamento crítico e resolução de problemas, entre outras. É igualmente necessário equilibrar a formação entre áreas técnicas e humanistas/artísticas.

 

Escassez de mão-de-obra é uma realidade

Nos painéis da tarde em que se discutiu o futuro das empresas, foram várias as questões que se levantaram, tanto do lado dos oradores como do público participante. Os representantes da Sinuta S.A., Navigator e Ria Blades elogiaram a participação ativa, tanto das escolas como das associações empresariais, mas queixam-se da falta de mão-de-obra, quer qualificada como não-qualificada.

 

Diamantino Nunes frisou a dificuldade em garantir mão-de-obra disponível para trabalhar por turnos e falou na falta de “soldadores, fresadores e outros profissionais especializados no mercado de trabalho.” Referiu que “o ensino profissional é um grande desafio para as empresas” e que os empresários precisam de influenciar a formação média e têm a responsabilidade de remunerar melhor. As pessoas querem viver melhor e hoje a economia e a indústria têm que olhar para as pessoas como complementos dos automatismos. Por isso, a aposta em “formar mais, automatizar mais, empregar mais para produzir mais”.

 

Necessária a interação entre escolas e empresas

Na sua generalidade, os vários intervenientes consideram essencial a ligação entre as várias entidades formadoras e empregadoras. Isto porque há circunstâncias e necessidades em constante mutação, que só podem ser colmatadas em tempo útil através de uma boa comunicação entre as escolas e as empresas.

 

Jorge Castro defende a alteração dos métodos de ensino de forma a “incorporar jovens nas empresas”. O representante da Escola Profissional de Aveiro defende que a formação tem de passar pelas mesmas e que é necessária “uma injeção de confiança nos jovens”. Afirmou que “3 em cada 10 alunos não querem ou não gostam de estudar, pelo que algo tem que ser alterado, nomeadamente os métodos de ensino.”

 

Em jeito de conclusão, o Vereador da Juventude e Educação da Câmara Municipal de Estarreja, João Alegria, valorizou e frisou a importância do ensino profissional no município.

“É nesta rede de parceiros que se pode e tem que se encontrar as melhores respostas aos grandes desafios que o mercado de trabalho coloca já hoje. E a responsabilidade e o envolvimento é de todos, concertando e definindo em termos de qualificações o que a nível local e regional é mais necessário. Por isso, o Município vai continuar este caminho na procura das melhoras soluções”, afirmou.