“PlastiCidade”: As artes comentam a cidade
Três edifícios municipais encontram-se inundados de criatividade e manifestações artísticas. “PlastiCidade” assume a culpa: exposição coletiva desenhada para integrar o programa comemorativo do 10º Aniversário da Elevação de Estarreja a Cidade. Mais de 30 obras e perspetivas de 18 artistas do concelho foram inauguradas no passado dia 21 de novembro e permanecerão até 26 de janeiro à disposição do público.
Da música ao cinema, passando pela fotografia, gravura, ilustração, moda, poesia e artes plásticas, a diversidade de olhares acerca de Estarreja engrossa os contornos desta “PlastiCidade”. Uma organização do Município de Estarreja cujo resultado superou expectativas. Satisfeito, Diamantino Sabina, Presidente da Câmara Municipal, realça que estamos perante “uma mostra de arte muitíssimo interessante e variada”. A riqueza cultural e artística de Estarreja está no cerne desta exposição. “Quisemos aproveitar a qualidade artística de quem temos no Concelho para podermos elevar ainda mais este sentimento de Cidade que temos há 10 anos”, explicou o autarca.
Visita guiada pela criatividade
Nuno Bastos abriu o roteiro da exposição com a estreia do tema musical “Estarreja és Vila-Cidade”, nos Paços do Concelho. A nova composição do cantor e compositor estarrejense sublinha o caracter de proximidade que se vive em Estarreja: “comemoramos a elevação a cidade e, de facto, o crescimento aconteceu, mas há questões de vila que se mantêm, nomeadamente o conceito de proximidade e vizinhança. Estarreja não perdeu a essência de vila que eu conheço desde pequeno e isso foi o mote para esta obra”, explicou Nuno Bastos.
As coleções “Entre o Céu e a Terra” e “Figuras” de pintura e escultura, respetivamente, resultam de um “trabalho árduo durante o último ano”, referiu o artista plástico Joakin Pereyra. As paisagens naturais e o Rio Antuã, mas também o desporto e a pesca são áreas representadas nas peças do autor expostas no átrio da Câmara Municipal e na Casa Municipal da Cultura.
As boas-vindas à Biblioteca são agora dadas pela poesia de Liliana Lavado e de Carlos Vieira que preferiram quebrar Estarreja em versos, exprimindo vivências pessoais nos diferentes palcos da cidade.
Chegado à Casa Municipal da Cultura, o visitante da “PlastiCidade” é surpreendido pela grande “Peça Chave”, de José Machado. Uma escultura conceptual em couro que incentiva a pensar na problemática da baixa taxa de natalidade. Segundo o autor, a obra “faz um convite à discussão acerca de uma temática que afeta as sociedades contemporâneas” onde “Estarreja também se inclui”. “Uma cidade sem pessoas não é uma cidade e a minha peça quer simplesmente brincar com essa ideia”, revelou José Machado enquanto mostrava que esta “Peça Chave” pode ser “usada”. “Podemo-nos sentar nela, interagir com ela”.
Inspiração em movimento
Nesta exposição coletiva o cinema encontra-se representado em dois trabalhos de personalidades do concelho: António Costa Valente e Paulo D’Alva. “OlhosOlhos: na linha do jacaré”, instalação-vídeo de António Costa Valente, sugere “um confronto entre a imagem cinematográfica que aparece e a instalação tecnológica que permite com que ela apareça”. Para o professor e Presidente da Direção do Cine-Clube de Avanca, esta peça relaciona-se com Estarreja pelo “facto de termos imagens em movimento de uma forma tão única no nosso concelho”.
“Louco motion” intitula a peça de Paulo D’Alva composta pela curta-metragem de animação “Carrotrope” e uma escultura. “O espectador pode movimentar a peça”, sublinha Paulo D’Alva. Segundo o realizador “a ideia é tornar o espectador parte da obra, enquanto visualiza o filme”. A escultura resulta da junção de dois brinquedos óticos, o Zootrope e o Praxinoscope, “que ilustram também o movimento”. As criações de António Costa Valente e Paulo D’Alva podem ser encontradas na Casa Municipal da Cultura.
Homenagem a Egas Moniz
“Uma bata de médico serrada como as batas antigas da psiquiatria.” Esta é a materialização da “homenagem a Egas Moniz” que o alfaiate João Paulo Rodrigues acrescentou à exposição “PlastiCidade”. “Medo, Defesa e Elaboração” são as palavras que completam o nome da obra, na qual se consegue ler “um excerto de um poema de Herberto Helder”, funcionando como “um comentário ao mundo” do próprio artista.
Também Diogo Carvalho não esqueceu o Nobel da Medicina. “Egas Moniz tem sido sempre uma parte integrante de Estarreja, mas nos últimos 10 anos considero que se tem trabalhado de forma mais mediática tudo o que o envolve.” Estas considerações de Diogo Carvalho, pardilhoense que faz parte do mundo da Banda Desenhada em Portugal, passaram para o papel nas ilustrações “Convite”, “Conhecer”, “Viver” onde o Carnaval de Estarreja e o BioRia também mereceram uma abordagem de destaque.
O espelho reflete e faz refletir
A peça dos arquitetos e irmãos Ricardo e Nuno Matos quer que os cidadãos e visitantes do Município se olhem ao espelho. O protótipo da “Selfie de Estarreja - Auto-Reflexão” também pode ser encontrado na Casa Municipal da Cultura, enquanto se aguarda pelo trabalho final. Quando concluída, a peça “de grandes dimensões” terá como “ponto de partida a Praça Francisco Barbosa”, explicou Ricardo Matos, acrescentando que “a ideia é que a peça seja amovível e que possa percorrer todas as freguesias, permitindo uma maior interação com a instalação.” Falamos de um espelho, com 4,5 metros de diâmetro, que irá refletir edifícios ou paisagens do Município de Estarreja. Segundo Nuno Matos, “nesta onda do autorretrato ou da selfie ocorreu a ideia de fazer espelhar, refletir o cidadão, funcionando ao mesmo tempo como uma metáfora para a autorreflexão, em que cada um se deve questionar ou saber qual o seu papel e contributo enquanto habitante ou visitante do Município.” Os irmãos Matos contam que a peça esteja concluída entre o final do ano e o início de 2016. Para já a interação consegue-se com o protótipo e desenhos técnicos.
Patente até 26 de janeiro de 2016, a exposição coletiva “plastiCidade” conta ainda com fotografias de Carlos Marques e João Lemos, ilustrações de Klaudia Lademann e Gabriel Rego, sem esquecer o concerto do trio TRItono agendado para 17 de janeiro no Cine-Teatro de Estarreja. Ricardo Antão, Sandro Andrade e Vasco Valente somam mais um espaço à “PlastiCidade” e dedicam a sua performance às Bandas Filarmónicas do concelho.