Egas Moniz, Pioneiro da Neurorradiologia, homenageado em Congresso Nacional
A Casa-Museu Egas Moniz, em Avanca, acolheu o encerramento do XI Congresso Nacional de Neurorradiologia - 25 Anos da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia (SPNR), no último sábado, abrindo as portas a dezenas de especialistas vindos de todo o país e de alguns países da Europa. Fruto da parceria estabelecida entre o Município de Estarreja e a SPNR, o lançamento do livro “Egas Moniz, Pioneiro da Neurorradiologia – Coletânea de Separatas Científicas” constituiu um dos momentos altos do evento.
O 70º Aniversário do Prémio de Oslo, atribuído ao cientista natural de Avanca pela Universidade de Oslo a 3 de setembro de 1945, pelo desenvolvimento da Angiografia Cerebral, o 25º Aniversário da SPNR, assim como a atribuição inaugural do Prémio Egas Moniz em Neurorradiologia, ficam perpetuados no livro “Egas Moniz, Pioneiro da Neurorradiologia – Coletânea de Separatas Científicas”, uma edição da Câmara Municipal de Estarreja, onde é igualmente percetível a evolução da Neurorradiologia para a Neuroimagiologia.
Textos menos conhecidos agora em livro
A obra revela um conjunto de 8 separatas, desde a primeira comunicação à comunidade científica mundial, em 1927, na Sociedade de Neurologia de Paris, onde revela os seus trabalhos de pesquisa que conduziram à criação da Angiografia Cerebral, passando por publicações nos principais centros médicos estrangeiros onde o seu nome era frequentemente citado, na Europa (Barcelona, Bordeaux, Nápoles) e também do outro lado do Atlântico, no Rio de Janeiro, Brasil.
88 anos depois, a figura do cientista, que também foi escritor, político, diplomata, professor universitário e médico, continua a estimular a descoberta e divulgação do seu vasto património científico e cultural. O Vereador da Cultura da Câmara Municipal, João Alegria, referiu o quanto é “desafiante apresentar um livro com escritos que estavam um pouco escondidos e que pertencem ao fundo documental da Casa Museu Egas Moniz”. Essa vasta herança legada pelo génio é constituída por 50 mil documentos que se encontram digitalizados e disponíveis para consulta.
A parceria entre as duas entidades permitiu “tornar acessível um acervo editorial inestimável e inédito da autoria do 1º neuroangiografista/ neurorradiologista a nível mundial, do qual este livro é apenas uma singela súmula”, salientou o Presidente do Congresso Nacional, Pedro de Melo Freitas. Juntamente com o Prémio Egas Moniz, o Município é desta forma promotor de um “merecido tributo ao trabalho e dedicação e à especialidade”.
Felicitando as ações agora desenvolvidas com a SPNR e “outros desafios pela frente”, que valorizam e ampliam o nome do professor, João Alegria também não deixou de lamentar que o seu “nome é muitas vezes esquecido por Lisboa. Egas Moniz é de todos nós, é de Portugal e do Mundo. Temos andado um pouco sozinhos e precisamos de todos as parcerias, desde a Administração Central a parcerias como esta com a SPNR, para lembrar quem foi Egas Moniz, o mais ilustre estarrejense, um grande ilustre português. Compete a todos nós”, deixou o repto.
Estarreja quer congresso assinalando os 90 anos da Angiografia
Mantendo-se atuais as palavras de Julião Quintinha, no jornal “República” em 1946, quando Egas Moniz deu a sua primeira entrevista após ter sido distinguido pela Universidade de Oslo, talvez ainda hoje Portugal deva “uma grande e séria homenagem ao Homem que tanto tem trabalhado para Portugal e honrado a Humanidade”.
A Câmara Municipal de Estarreja espera continuar a aprofundar a união com a SPNR lançando-se um novo desafio para o futuro. Diamantino Sabina, presidente da autarquia, deixou o repto aos responsáveis da SPNR para que realizem em Estarreja o seu 13º Congresso Nacional, associando-o às comemorações dos 90 anos da descoberta da Angiografia Cerebral. “Queremos fazer parte deste movimento médico e continuar com esta parceria”, reforçou.
Focando “a legítima homenagem ao pioneiro mundial da angiografia cerebral”, Pedro Vilela, presidente da SPNR, enalteceu a “admirável visão” de Egas Moniz ao criar “esta nova valência de conhecimento médico, a angiografia diagnóstica e terapêutica, parte da nossa atividade quotidiana”. O investigador foi “igualmente recordado pelo reconhecimento de um dos maiores avanços médicos no tratamento das doenças cerebrovasculares, o tratamento endovascular do acidente vascular isquémico”.
“Fazer sempre qualquer coisa de diferente”
O marinheiro inspirado nos Lusíadas e retratado num painel de azulejos existente na antiga “Casa do Marinheiro”, hoje Casa-Museu Egas Moniz, parece retratar o Homem que ousou ambicionar e que da sua pequena aldeia que o viu nascer conseguiu desbravar marés nunca antes navegadas, tornando-se respeitado em todo o mundo pelo seu inegável contributo para a evolução de medicina mundial do século XX.
Como princípio de vida tinha “a preocupação de fazer sempre qualquer coisa de diferente, abrir uma janela do conhecimento. O marinheiro é o espelho de Egas Moniz”, uma analogia estabelecida por alguém que com ele privou, o seu sobrinho-neto Eduardo Macieira Coelho.
Eduardo Macieira Coelho partilhou a sua alegria por mais estas ações que evocam Egas Moniz. “Sempre que se fala no Egas Moniz é uma emoção para mim. Sempre que há uma homenagem são duas emoções e se há um Prémio com o nome de Egas Moniz são três emoções, portanto estou encantado”, disse acrescentando que “lembrar o Egas, é lembrar não só aquilo que ele realizou mas aquilo que ele estimulou que é das coisas mais importantes. Ele deixou um estímulo que foi apreendido por um certo número de médicos que também renovaram a medicina. Isto é o mérito do mestre, isto é que é um mestre.”
Durante o Congresso Nacional, na sexta-feira à noite no Museu de Aveiro, foi atribuído o Prémio Bienal Egas Moniz em Neurorradiologia, criado pelo Município de Estarreja e SPNR, com a chancela da Ordem dos Médicos. A versão inaugural foi atribuída aos 14 fundadores do Núcleo Português de Neurorradiologia, criado em 1980.