Grupo russo-alemão abre amanhã «ESTA 2001»

Falar de amor num estilo simples e só com recurso ao corpo, sem palavras, é a proposta que a companhia de teatro russo-alemã «Derevo» propõe ao público com o espectáculo «Once» que subirá à cena pelas 21,30 horas de amanhã no âmbito do «ESTA 2001» - Festival de Estarreja que decorrerá entre 1 e 17 deste mês no atelier do Instituto de Arte Dramática ACTO. A companhia promete um espectáculo de qualidade, em consonância com os elogios da crítica às representações já apresentadas um pouco por todo o mundo. Não é por demais salientar que «Once» é a peça mais premiada da companhia. Na «performance» que amanhã o público terá a oportunidade ver em Estarreja o Amor é a palavra de ordem. «’Once» é uma história de amor.Um cliché que apresenta um triângulo amoroso convencional entre uma mulher e dois homens feito num estilo de palhaço-bailarino», revela uma das componentes do grupo, Tatiana Khabarova. Na peça procura-se falar de amor de forma simples mas com sentimentos muito profundos. O que estará em palco não serão as palavras (elas pura e simplesmente não existem) mas falar sobre o amor com o corpo. Um exercício expressivo ao qual se têm rendido os diferentes públicos e a crítica que, por toda a Europa, têm visto «Derevo» a actuar. Um conto de fadas sobre amor «Era uma vez, não longe daqui, numa cidade chamada N... viviam duas pessoas solitárias. Ele e Ela. Ela era uma mulher bonita mas um pouco ingénua, talvez mesmo estúpida. Ele era um homem gentil, de coração quente mas azarado. Num dos muitos dias chuvosos, o relâmpago do amor atingiu os seus corações. E a história começa a desenhar-se entre risos e lágrimas, para além do cúpido pessimista, o mal elegante, para além da morte imbecil e até ao final desconhecido... «Once» é um conto de fadas sobre amor, lágrimas e corações partidos. «Não é uma ilusão embora haja momentos de sonho e daí se poder retirar profundos sentimentos», diz Tatiana Khabarova. É uma peça que mostra um trágico amor infeliz representado por palhaços. «Once» é um espectáculo adequado e dedicado às crianças que vivem em nós. Cinco actores empregam os seus corpos e toda a sua energia para cativar o público para uma história de amor. Um momento precioso e raro, contrastando com a perda deste valor num mundo complexo e conflituoso. Falar de amor num estilo simples reflecte-se, também, no cenário proposto: uma cidade onde toda a acção se desenrola. Nele, três dos cinco actores incorporam personagens fixas enquanto os restantes «criam um universo de personagens». Todos eles usam o corpo e a energia para construir o espectáculo, por sinal, o mais premiado de todas as peças representadas pela companhia independente russo-alemã. Espectáculo prossegue em tournée Com quatro anos de apresentações em palcos «Once» vai continuar em tournée embora esteja nos horizontes próximos proceder-se em força ao lançamento de um outro espectáculo - «Suicide». Quanto ao futuro, a companhia possui já projectos. De momento está a trabalhar no guião para um filme intitulado «Ilhas na Corrente». O grupo pretende convidar um compositor (John Surman) e fundir o trabalho da música com o trabalho de actuação. Este guião sucederá à realização de um filme realizado o ano passado. Trata-se de um espectáculo teatral que foi transformado em película e que tem já arrebatado sucessivos sucessos em festivais de cinema. Chama-se «Fronteira do Sul» e é, também, uma história sobre o Amor. A base das produções de «Derevo» tem a ver com o Amor mas Tatiana Khabarova faz questão de acentuar que o tema principal «são as razões da existência individual». Os componentes do grupo evitam mesmo o uso de palavras como teatro, actor ou representação, encarando antes o seu trabalho como «consciência da existência pessoal». No palco, quer utilizando como estilos a dança ou as artes plásticas, os membros da companhia procuram ser «bastantes eclécticos, fazendo, por vezes, improvisações que resultam de um trabalho conjunto de longa data e do conhecimento forte que têm uns dos outros», afirma Tatiana Khabarova. DEREVO é uma companhia fundada na Rússia (Leninegrado) em 1988. Desde 1997 que se fixou em Dresden, Alemanha, pela inexistência de «condições básicas e políticas para trabalhar na Rússia.«É importante ter um palco e uma sala de ensaios», refere Tatiana Khabarova.Foi isso mesmo que encontraram na Alemanha há quatro anos. Entre os vários prémios que «Once» recebeu contam-se: Asosiación Mexicana de Críticos de Teatro com o prémio de melhor teatro internacional no ano 2000, Edinburgh Festival Fringe com «Fringe First» e «Herald Angel», em 1998, Festival Erlangen (Alemanha) com o prémio ARENA, 1997 e Festival Radebeul (Alemanha) com o prémio «Wandertheater», 1997.