Poupar água deve ser uma prática diária e planeada
Como poupar água nos espaços urbanos? Como utilizar de forma sustentada este recurso escasso e precioso? Mais de 100 profissionais e estudiosos da área analisaram estas questões durante o seminário sobre o “Uso Eficiente da Água nos Espaços Verdes”, que decorreu no Cine-Teatro de Estarreja.
Na abertura do evento, o presidente da Câmara Municipal, José Eduardo de Matos, constatava que “ainda temos um défice cultural enorme nestas matérias”, contudo as consciências poderão começar a mudar, até “por força de alguma atualização de preçários de água” destinada ao consumo público. A poupança da água e a sua utilização racional deve ser encarada com seriedade por cada um de nós.
Quanto à autarquia, está atenta a estas matérias e “tem feito um esforço nos espaços verdes e nos edifícios”, tendo em vista a racionalização da utilização desse bem precioso, praticando “no nosso dia-a-dia aquilo que é o sentido da boa gestão e de uma prática equilibrada e esse caminho tem vindo a ser feito”.
Há um “amplo campo de atuação” ainda por trabalhar e a forte adesão ao seminário promovido pela Subunidade dos Espaços Verdes da CME “significa que partilham desta cultura e querem expandir estes conceitos, cruzando conhecimentos e saberes”, afirmou com satisfação à plateia.
REUTILIZAR MAIS E PLANTAR MELHOR
A reutilização de águas residuais tratadas “é uma alternativa cada vez mais atraente”, conforme referiu Helena Nadais, da Universidade de Aveiro, havendo diferentes utilizações possíveis: espaços verdes, agricultura ou combate a fogos. Israel lidera a lista de países que reutilizam água, suprindo 25% das suas necessidades com água reutilizada. Uma solução que liberta um “volume de água de abastecimento potável alocada para necessidades humanas básicas”. Há linhas de orientação que devem ser definidas e uma solução deste tipo deve estar enquadrada num regime legal de proteção da saúde pública, de boas práticas e regras de segurança.
Monitorização e fiscalização são as soluções apontadas por António Moniz, da APEV – Associação Portuguesa de Espaços Verdes. O orador considera que “é criminoso utilizar águas potáveis para os espaços verdes” e defende “políticas para a utilização de águas residuais tratadas que não são utilizadas neste país”. A água é um bem essencial à vida e as pessoas têm que mudar urgentemente os seus consumos, apelou. Crítico relativamente às opções de municípios que utilizam “relvados a torto e a direito”, enormes consumidores de água, sem planificar gastos de manutenção e dispêndios de água, António Moniz reforça a obrigação que as câmaras têm de “planear a médio e longo prazo”.
José Pedro Araújo Alves, da UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desmistificou a utilização de espécies exóticas, sendo a seleção das espécies uma forma também de combater os excessos de utilização de água. Há “um mito que está instalado que é a utilização exclusiva de plantas autóctones. Há muitas exóticas que também fazem uso excelente da água do solo”. Cuidados com “os viveiros onde se produzem as plantas, sistemas de regas eficientes, a preparação do solo” são alguns dos “imensos aspetos em que se pode intervir para um melhor uso da água e menos custos em mão de obra”, aconselhou o especialista.
O abastecimento sustentável de água e o tratamento de águas residuais também estiveram em cima da mesa. Fernanda Baião, da AdRA – Águas da Região de Aveiro referia que “98% das águas residuais são tratadas e entregues à SIMRIA que as trata e devolve ao meio”. O sistema abrange mais de 111 mil clientes de 10 municípios da região. A AdRA tem um plano de educação ambiental que versa “os meios de otimizar as utilizações e de rentabilizar esse recurso natural”.
A organização da Câmara Municipal de Estarreja reuniu técnicos de câmaras municipais, com representações de 33 municípios, colaboradores de várias entidades de ensino e de gestão pública bem como de várias empresas desde arquitetos, projetistas, engenheiros agrónomos e do ambiente.
Com este evento, a autarquia procurou dar respostas à necessidade de poupança de água e da crescente preocupação com os desperdícios, nomeadamente nos sistemas de rega dos espaços verdes, em conjugação com os elevados custos de água que os municípios agora se deparam.