Fernando Assis Pacheco recordado em Estarreja
Em mais uma tertúlia "Gentes da nossa Terra.", a Biblioteca Municipal de Estarreja homenageou Fernando Assis Pacheco (1937-1995), perante uma plateia que preencheu o auditório. A vida e obra do jornalista, crítico, tradutor e escritor, que tinha fortes ligações a Estarreja, foram recordadas pelos familiares e amigos pessoais. Assis Pacheco foi relembrado enquanto marido, pai, amigo, autor, ator e jornalista, após 16 anos do seu falecimento (30.Nov.1995).
Para o anfitrião Presidente da Câmara, o serão significava um acto contra o esquecimento tão comum num mundo sem tempo e a humilde contribuição da autarquia na revisitação de um vulto das nossas letras, fomentando a leitura. No acto, José Eduardo de Matos recuou um quarto de século, regressando a uma entrevista, na então Rádio Moliceiro de Pardilhó, que lhe permitiu descobrir Assis Pacheco, um ilustre autor desconhecido.
A filha Rosa Assis Pacheco partilhou memórias bem vivas sobre o pai, relembrando a sua insistência em vir escrever para Pardilhó, a ligação à ria. Leu ao auditório uma carta enviada para o propósito pelo arquiteto Pitum Keil do Amaral, que não pode estar presente por motivos de saúde.
A obra "Trabalhos e Paixões de Benito Prada", romance exemplar sobre um galego emigrado no Portugal Republicano, foi aconselhada a todos os presentes pelo amigo e editor João Rodrigues. A valia da prosa e da companhia amistosa do homenageado foram sentimentos expressados com saudade. Este editor trouxe também a notícia que estará, para breve, a publicação da totalidade da obra de Assis Pacheco
Enquanto o advogado e também amigo, Marcelo Correia Ribeiro, enaltecendo a sua poesia e segurando "A Musa Irregular" - "um dos melhores livros dos últimos 50 anos do século passado" -, lembrava as memórias do tempo da juventude com Assis Pacheco e de todas as peripécias que passaram juntos. Lembranças partilhadas com a mulher Rosarinho, filhos e netos presentes na tertúlia.
Na sessão foi ainda exibido um vídeo do filme "Bárbara", a primeira longa-metragem totalmente produzida pela RTP, em película de 35mm e a cores, com argumento de Fernando Assis Pacheco e Alfredo Tropa, histórico realizador português, que também esteve presente no auditório da Biblioteca Municipal.
Da participação entusiástica dos presentes, releva-se a reflexão trazida pelo pardilhoense José Luís Moreira dos Santos que, embora não tenha contactado pessoalmente com Assis Pacheco, considerou-o um humanista pelas suas dimensões familiares, de amizade, de decência ética e de homem feliz à medida das suas necessidades. Classificou-o como um erudito da humildade, escrevendo poesia para a vida, caracterizando-a como uma poesia plena de rebeldia e jovialidade, mas também madura e substantiva.
Por seu turno, o salreense Sérgio Paulo Silva, que contribuiu com diversos livros, documentos, poemas e entrevistas para o enriquecimento da exposição que antecedeu a tertúlia, relembrou alguns momentos bem significativos partilhados em conjunto e considerou que, passados tantos anos depois, se "extrai muito sumo" da sua obra, reveladora do seu pensamento e do seu carácter.
Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco (Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937 - Lisboa, 30 de Novembro de 1995) que passava férias em Pardilhó na casa da família, publicou o seu primeiro livro Cuidar dos Vivos, em 1963, título de poemas de protesto político e cívico, com afloramento dos temas da morte e do amor.
Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, na República, no JL - Jornal de Letras, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi diretor-adjunto. Foi também redator de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária. Traduziu para português obras de Pablo Neruda e Gabriel Garcia Márquez. Célebre foi também a sua participação no popular concurso "A Visita da Cornélia".
A tertúlia "Gentes da nossa Terra" destina-se a homenagear personalidades do município, ligadas à literatura.