“Terras de Antuã” preserva a história local
Uma imagem perdida no tempo que a Terras de Antuã se encarrega de mostrar aos estarrejenses. A descarga de sal no Esteiro de Estarreja é uma das 650 imagens que a revista reuniu até hoje. Mergulhar nas páginas da Terras de Antuã é descobrir pedaços da história local que vão emergindo, ano após ano. Em 5 edições foram produzidas 1300 páginas com mais de 60 artigos que revelam as memórias e histórias do concelho de Estarreja.
No sábado à tarde, foi apresentado o número 5 da “Terras de Antuã – Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja”, mais uma vez com uma assistência numerosa no Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa sessão presidida pelo presidente da Câmara Municipal de Estarreja, José Eduardo de Matos.
Para o autarca, este projecto representa a “afirmação de uma história que teve muitos autores, co-autores, imensos intérpretes”. José Eduardo de Matos salienta o papel importante desta publicação que faz “chegar a cultura a mais cidadãos” que como ele podem ser surpreendidos pelo “prazer da descoberta permanente”. Este recuar no passado “para acentuar a nossa identidade e capacidade” e “relembrar muitos aspectos que fizeram aquilo que somos hoje” contém ainda um “sentido de afirmação do futuro”, sublinha José Eduardo de Matos.
“Com temáticas que vão desde a arqueologia, passado pela arquitectura, arquivística, biografia, construção naval, emigração, genealogia, heráldica, entre outras”, descreve o director da revista, Delfim Bismarck, esta edição apresenta “uma cronologia bastante ampla, que vai da proto-história à contemporaneidade”, resultando uma vez mais numa publicação “equilibrada, multi e transdisciplinar, demonstrativa da riqueza histórica e patrimonial do concelho de Estarreja”.
D. Luciana Augusta de Sousa Abreu Freire, irmã do Prof. Egas Moniz, merece honras de capa, incitando à leitura do artigo sobre o papel das mulheres na vida de Egas Moniz, assinado por Rosa Maria Rodrigues. A irmã, a mãe Maria do Rosário Abreu e a mulher Elvira Macedo Dias são as “três mulheres da vida de Egas Moniz que aparecem sempre nos seus livros” e que caminharam ao seu lado durante os 81 anos da sua existência. Neste artigo, é o próprio que na primeira pessoa conta “como as via e como o marcaram”.
A saga do Navio Maria das Flores, destinado à pesca do bacalhau e construído em 1946 no Bico da Murtosa, pelo construtor de Pardilhó José Maria Lopes de Almeida, conta o episódio em que o lugre com 50 metros de comprimentos encalha após o bota-abaixo “porque a Ria não tinha profundidade suficiente”, explica a autora do artigo Ana Maria Lopes. Os trabalhos de desencalhe constituíram uma “difícil e árdua tarefa”.
Esta edição tem ainda a particularidade de apresentar aquele que se julga ter sido o último texto da autoria do escritor estarrejense Joaquim Lagoeiro (falecido a 11 de Março), datado de 31 de Janeiro de 2011, e dedicado a João Carlos de Assis Pacheco Pereira de Melo, que Joaquim Lagoeiro considera o “Fundador de Estarreja”. Nestas páginas, o Município presta mais esta homenagem ao autor, “como sempre com amizade” tal qual lhe retribuiu saudosamente José Eduardo de Matos, relembrando ”O Baile”, a sua derradeira obra literária.
No final de sessão, alguns dos presentes elogiavam o contributo deste projecto para perpetuar o património cultural e a memória colectiva. O escritor estarrejense Sérgio Paulo Silva referia-se aos “trabalhos de muito interesse” que surgem nesta revista desde a sua primeira edição, desejando que as escolas se envolvam neste projecto.
Para Raquel Jesus, presidente da Banda Visconde de Salreu, “tudo aquilo que realce o património cultural da nossa região e muito importante”, assim como preservar “as nossas origens e raízes é de elementar justiça”. Domingos Joaquim da Silva, Visconde de Salreu, foi um dos maiores beneméritos que o concelho conheceu e Raquel Jesus espera que as escolas lhe façam justiça levando o seu nome e papel na comunidade local às crianças.
Também presente na sessão, Alcides Sá Esteves, ex-presidente da Assembleia Municipal de Estarreja considera a “iniciativa profundamente louvável. A Câmara Municipal de Estarreja continua de parabéns”. Se por um lado, o projecto “vem suprir uma lacuna grave que tínhamos em termos de passado de história municipal”, por outro face aos desafios actuais que enfrentamos, “conseguiremos suplantá-los de forma mais eficaz quanto mais tivermos consciência do nosso passado e dos seus exemplos inspiradores”, afirmou.
O lançamento da revista assinala também a comemoração do 492º aniversário da atribuição do Foral de Antuã. A edição número 5 está disponível para venda ao público, na Casa da Cultura, Casa Museu Egas Moniz e Biblioteca Municipal, pelo valor unitário de 6 €.