Centro de Interpretação Ambiental do BioRia acolhe o primeiro investigador
O Centro de Interpretação Ambiental do BioRia foi utilizado pela primeira vez por um investigador a desenvolver trabalho científico na área de Salreu. Luís Gordinho, estudante de doutoramento do CIBIO/Universidade do Porto e bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, iniciou em Fevereiro o trabalho de campo para a sua tese. O estudo, subordinado ao tema “Selecção divergente e isolamento reprodutor: um estudo empírico em escrevedeiras-dos-caniços”, prolongar-se-á até Fevereiro de 2014.
A escrevedeira-dos-caniços (Emberiza schoeniclus) é um pequeno passeriforme que nidifica em meios palustres, tais como caniçais, juncais e bunhais. Existem duas subespécies de escrevedeira-dos-caniços nidificantes na Península Ibérica: E. s. lusitanica, que cria no noroeste da península, nomeadamente no litoral centro e norte de Portugal; e E. s. witherbyi, que nidifica no sudeste Ibérico. Estas distinguem-se entre si e da subespécie nominal (que nidifica no centro e norte da Europa) pelo tamanho, plumagem e, particularmente, pela forma e dimensão do bico.
No trabalho agora iniciado, pretende-se determinar quais os caracteres envolvidos na selecção divergente entre as subespécies e avaliar se as adaptações locais têm como consequência a evolução de barreiras reprodutivas; barreiras essas que poderão eventualmente originar novas espécies. Em particular, coloca-se a hipótese da divergência no tamanho do bico influenciar o tipo e estrutura das vocalizações (tal como se verifica noutras espécies, incluindo os famosos tentilhões de Darwin), o que poderia causar algum grau de isolamento reprodutor através de diferenças na selecção sexual e no reconhecimento entre indivíduos de distintas (sub)espécies.
De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005), a escrevedeira-dos-caniços residente no continente (E. s. lusitanica) tem o estatuto de “Vulnerável”, devendo a Ria de Aveiro albergar a maior parte da população nidificante nacional. O Livro Vermelho dos Vertebrados de Espanha (2004) atribui às populações nidificantes em Espanha o estatuto de “Em Perigo”. Ambos os trabalhos consideram a população do Noroeste da Península como pertencendo a uma subespécie distinta e endémica.
Assim, este trabalho poderá também ter consequências ao nível da conservação, contribuindo para um melhor conhecimento da diversidade morfológica e genética destas populações ameaçadas.