Comemoração dos 80 anos da Angiografia Cerebral
EGAS MONIZ DEU UM “INESTIMÁVEL CONTRIBUTO PARA A MEDICINA MUNDIAL DO SÉC. XX”
“Naquela hora inesquecível, nessa tarde de 28 de Junho de 1927, todas as atenções se concentravam no exame da primeira arteriografia. (…) Pela primeira vez vimos ao vivo, na radiografia obtida, os vasos cerebrais.
Eduardo Coelho, que estava na câmara escura, apenas viu as artérias, veio gritar-nos: “Eureka, Eureka! Todos os que assistíamos à prova exultámos de satisfação. Tinha-se alcançado o objectivo em que empenhámos a actividade e a concentração de muitos meses”
“Confidências de um Investigador Científico”, Egas Moniz
A descoberta da Angiografia foi o mote para Eduardo Macieira Coelho, sobrinho-neto de Egas Moniz e professor Universitário na Faculdade de Medicina de Lisboa, contar uma história sobre o investigador na palestra "Egas Moniz e a Angiografia: O cientista, o Homem", que decorreu na Biblioteca Municipal em comemoração dos 80 Anos da 1ª Angiografia no Homem. A família Macieira Coelho marcou presença na celebração e recordou os momentos de convivência com o professor.
Numa conferência intimista, através do familiar a plateia contactou com o percurso de Egas Moniz, suas vivências e emoções. “Ele não era só um homem de ciência, tinha um amor à vida e às coisas belas que a vida tem, como o convívio humano”, disse o palestrante cuja infância teve uma enorme ligação a Egas Moniz sendo usual ouvir o relato das suas descobertas.
A Angiografia é um método de diagnóstico que permite a visualização dos vasos sanguíneos. A saga começou em 1925. Para conseguir fazer a Angiografia cerebral, Egas Moniz realizou muitas experiências, primeiro no animal e depois, “quando os resultados melhoraram, iniciou as experiências no cadáver humano”, na tentativa de encontrar substâncias que pudessem ser injectadas nas artérias do cérebro de forma a tornar visíveis os vasos cerebrais nas radiografias.
Dois anos depois, em 1927, o médico consegue a visualização das artérias cerebrais, realizando a primeira Angiografia cerebral no homem vivo, criando um importante meio de diagnóstico, sobretudo de tumores, e aneurismas.
A Angiografia cerebral “desencadeou em jovens clínicos portugueses grande entusiasmo e foi um inestimável contributo para a medicina mundial do século XX”. O palestrante citou Einstein que um dia disse que “não há sábios mas homens com infinita paciência” e acrescentou que, no caso, de Egas Moniz, à paciência se aliaram a perseverança e a teimosia.
Na abertura da sessão, o presidente da Câmara Municipal salientou que o Município fez questão de partilhar esta data com a família do investigador comemorando-a da forma o mais humana possível e dando a conhecer a personalidade multifacetada de Egas Moniz e a sua riqueza humana. “Uma efeméride importante com interesse nacional e mundial”, acentuou José Eduardo de Matos.
António Macieira Coelho, igualmente sobrinho-neto do Prémio Nobel, aplaudiu a iniciativa da Câmara por estar atenta às datas que é imprescindível assinalar. “Os portugueses não podem esquecer as suas grandes figuras, nomeadamente uma personalidade tão grande e rica como Egas Moniz”.
Durante a tarde, os irmãos Macieira Coelho revisitaram a casa em Avanca onde emergem as recordações da infância. Rosarinho Macieira Coelho tinha 29 anos quando o tio-avô morreu e era usual passar os Verões em Avanca. As lembranças de Egas Moniz são imensas. “Ele acompanhou-nos sempre, incluindo nos estudos, em tudo”, exclamou.
A Casa de Avanca contém o “espólio do princípio de vida de Egas Moniz, que ele depois desenvolver e recheou”. A digitalização de toda a documentação é uma “obra magnífica e estamos altamente reconhecidos por esse trabalho”, agradeceu António Macieira Coelho que também ficou surpreendido com o apoio sonoro agora disponível ao visitante da Casa Museu. O recurso “aos audiophones é notável sendo dos poucos museus do país que recorreu a esta inovação”, disse.
No final foi mencionado o blog da autoria de Álvaro Macieira Coelho que pode ser visitado no endereço
www.egas-moniz.blogspot.com