TEMPO DO CORPO: A dança contemporânea não escolhe corpos nem idades
Sofia Silva e um elenco de 18 intérpretes estão há 9 dias em Estarreja a preparar o espetáculo “Tempo do Corpo”. Em cena no Cine-Teatro no próximo sábado, 29 de março, às 21h30, este projeto de dança contemporânea, com maiores de 60 anos, chama os cidadãos locais ao palco.
Sofia Silva e um elenco de 18 intérpretes estão há 9 dias em Estarreja a preparar o espetáculo “Tempo do Corpo”. Em cena no Cine-Teatro no próximo sábado, 29 de março, às 21h30, este projeto de dança contemporânea, com maiores de 60 anos, chama os cidadãos locais ao palco.
Marcação de luzes e lugares, definição de figurinos. Nos minutos que antecederam o início do ensaio (a três dias do espetáculo), dezenas de pessoas ziguezagueavam pelo palco do Cine-Teatro de Estarreja. O grande dia está a chegar e o nervosismo ataca qualquer um, mesmo os mais experientes.
“Tempo do Corpo” é um espetáculo com participação da comunidade que faz parte da oferta cultural do Cine-Teatro de Estarreja e que envolve, além de participantes com idades entre os 60 e os 93 anos, da coreógrafa Sofia Silva, da assistente Anne Kristol e técnicos, também o empenho e dinâmica das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) do concelho que prontamente se associaram ao projeto.
Mostrar “o corpo como documento da vida” é o principal propósito de Sofia Silva com “Tempo do Corpo”. Para a coreógrafa, o facto do elenco variar consoante o local onde é apresentado torna o projeto “mais interessante” já que se consegue “chegar a mais pessoas” e descobrir “cada vez mais corpos diferentes e reações diferentes” às propostas de movimento.
A ideia não é entreter
Todo o trabalho desenvolvido visa a participação num projeto artístico e sua construção. Apesar de ser “a curiosidade o principal fator que faz com que as pessoas participem”, as dimensões social e artística são, para Sofia Silva, o mais importante neste trabalho. “A arte é importante não só para os artistas, mas para qualquer ser humano, para o seu desenvolvimento intelectual, sensitivo, interior, exterior, abertura das capacidades de visionar e sentir a vida”, destaca a coreógrafa. A “valorização de cada pessoa através da arte, humanamente e socialmente” dá pertinência a este projeto e, “apesar de não dar conta” o grupo termina o espetáculo “com mais qualquer coisa no seu interior”.
O interesse está na expressividade de cada um
“Agora vamos ser artistas”. Elsa Dominguez, da freguesia de Canelas, tem 67 anos e confessa que está a ser uma experiência “diferente”. A curiosidade também foi a principal motivação: “gosto de coisas que nunca fiz e conhecer sítios e pessoas que nunca conheci.” Fixar a coreografia é a principal dificuldade apontada por António Gomes, de 75 anos. “Gosto de estar sempre em tudo” e a ideia de fazer parte de “Tempo do Corpo” é um desafio que leva “até ao fim”.
“Este grupo tem uma grande diferenciação o que o torna ainda mais interessante”, salienta Sofia Silva. São pessoas com capacidades e dinâmicas diferentes, mas todos respondem ao exercício “e, o mais importante, é que cada um o faz à sua maneira”.