Eduardo Sá defende regras iguais para todos na escola

quinta, 11 de setembro 2008

Educar é um exercício recíproco e um acto plural que cabe a todos. Esta foi uma das mensagens deixadas pelo psicólogo Eduardo Sá na abertura do ano lectivo em Estarreja. Durante o fórum “À Conversa Sobre… Indisciplina na Escola”, o psicólogo clínico, psicanalista e professor de psicologia clínica na Universidade de Coimbra comentou o actual sistema educativo, criticou a ideia totalitária da educação e aludiu ao mito da indisciplina tão em voga nos dias de hoje.

Sublinhando que sempre existiram crianças mal comportadas, Eduardo Sá pediu aos presentes para mandarem “a indisciplina de férias”. Uma das soluções passa por aplicar um regulamento interno na escola. “A primeira função da escola é promover uma boa educação. Actualmente a escola não está a promover a sua função”, adverte o psicólogo. Isto porque a “escola tem que ser munida de regras. Quando não há regras que orientem professores, alunos e pais pode-se falar de indisciplina”.

Certo é que deve existir uma lei que seja igual para todos. “As regras são um princípio que faz com que o mundo seja melhor para todos. O aluno tem que estar à hora na escola mas o professor também; o aluno não pode atender o telefone mas o professor também não. A lei não é mais para uns do que para outros. Pensam que os alunos andam distraídos e não percebem os maus exemplos?”, interrogou Eduardo Sá a uma plateia composta essencialmente por professores, não docentes e encarregados de educação. 

Por outro lado, Eduardo Sá critica uma atmosfera demasiado escolarizada. “Nem sempre mais escola é melhor escola”. Apontou o dedo às aulas com uma duração de 90 minutos e com 10 minutos de intervalo. “Não sei quem as inventou. Muitas das vezes o Ministério é batoteiro. Não tendo pessoal que assegure os recreios, coloca os alunos dentro da sala de aula”, critica. Na opinião do especialista, esta ideia “incentiva o défice de atenção e a hiperactividade”.   

As aulas de substituição são outro ponto censurável. “Não têm ponta por onde se lhes pegue. Porque razão os alunos não têm direito ao feriado?”, salientando a importância da hora livre e do recreio. As crianças têm “imenso tempo de aula, são atropeladas com TPC e castigadas com trabalhos. Esta ideia de educação já morreu. Nos outros países não consta que haja aulas das 8h às 8h. Porquê têm que estar tanto tempo na escola? As crianças aprendem a odiá-la”.

Os recreios também são espaços de aprendizagem que Eduardo Sá valoriza. “O sucesso na escola passa também por ter sucesso no recreio, na relação com os amigos. A escola é um lugar para construirmos pessoas melhores”.

Na análise do mediático psicólogo, há dois tipos de crianças que o preocupam: “as exemplares, que pensam que se não tiverem 5 são despejadas de casa porque os pais lhes exigem este mundo e o outro, e as compulsivamente indisciplinadas que devem ser protegidas”. E mais uma vez questiona: “O que é que a escola faz para proteger estes alunos dos pais que não têm? Quais são as medidas que o Estado promove para defender as crianças que levam canivetes para a escola?”.
 
E na resposta disse ser “inacreditável que a escola seja de uma condescendência absurda perante as crianças em perigo”. Além do mais, as escolas têm tendência a agrupar os indisciplinados numa única turma. Ora, “duas crianças indisciplinadas juntas dão cabo de qualquer estratégia pedagógica. São um tornado”.

Defensor de uma educação infantil gratuita e para todos, Eduardo Sá critica que em Portugal o acesso aos infantários seja uma exorbitância, acabando por ser mais dispendiosos até do que estudar numa universidade privada. Considera demagogia os subsídios à natalidade na medida em que um filho custa muito dinheiro.

A ideia totalitária da educação também foi evidenciada na sua palestra lamentado o sistema de “uns a pensarem a educação e outros a aceitarem” o que lhes é imposto.

Para Eduardo Sá “a escola é a invenção mais bonita da humanidade”. Acredita que um dia as crianças queiram “fugir para a escola” mas para que isso aconteça é necessário que seja um “local acolhedor e aprazível”.