Mestre Esteves: uma vida dedicada à ria

Numa iniciativa do Município, António Esteves e Etelvina Almeida sentaram-se num moliceiro e reviveram histórias à volta da construção naval. Mais de 3 dezenas de pessos foram à boleia desta viagem no tempo.

quinta, 10 de maio 2018


Começou com 10 anos na profissão que até hoje se dedica. O Mestre Esteves conversou sobre construção naval, mas não só. Acompanhado de cerca de três dezenas de pessoas e sempre com um sorriso no rosto, o Mestre partilhou técnicas, histórias, desabafos, e peripécias de uma vida sempre vivida à beira-ria.

Embalado e conduzido pelas questões de Etelvina Almeida, como se de uma entrevista se tratasse, o Mestre Esteves foi retratando a história da sua vida, que se confunde com a da história da construção naval de Pardilhó. “Um dia, em novembro, um amigo meu perguntou-me:

- Olha lá, não queres vir aprender a construção naval?

- Eu por mim ia…”

E foi assim que tudo começou. No dia seguinte já estava a trabalhar no estaleiro. Esteve emigrado em França, na Alemanha e até nos Estados Unidos. Não por opção mas porque a vida assim o obrigou. Questionado sobre essas experiências recorda-as com saudosismo, apesar das dificuldades. “Fui porque tinha de ser. Levei daqui conhecimentos que utilizei lá fora, e aprendi coisas no estrangeiro que utilizo aqui. Na vida estamos sempre a aprender. Hoje tenho 76 anos e aprendo coisas novas todos os dias”. “Hoje não me imagino a viver ou a trabalhar noutro sítio. É aqui no estaleiro, juntamente com as madeiras, moldes, ferramentas e serradura que me sinto bem!”

Uma designer que se apaixonou pela Ria.

Etelvina Esteves é Designer de Comunicação e no seu Mestrado optou pelo tema “Embarcação Tradicionais da Ria de Aveiro”, ao qual deu o título “Um olhar pelo Design”. Começou um trabalho intenso de investigação e rapidamente chegou ao estaleiro do Mestre Esteves. “Fascina-me a construção, a pintura, e a forma apaixonada como ele se entrega a esta arte. Às vezes telefono-lhe e pergunto se há algum barco em construção. Acabámos por criar uma relação de grande empatia”, acrescenta a designer com um sorriso.
Etelvina Almeida é frequentadora assídua do estaleiro Mestre Esteves e sempre que lá vai interroga-se a si própria. “Cada vez que cá venho, aprendo sempre algo novo com ele. Como é possível? Ele [Mestre] tem muito, muito conhecimento.”

Um sorriso de tristeza

Os dedos de uma mão chegam para contar o número de pessoas que ainda hoje se dedicam à construção naval tradicional. O Mestre Esteves é um deles. E quando questionado acerca do futuro desta atividade, esboça um sorriso tímido que não consegue esconder a tristeza perante esta realidade. “Faço isto porque gosto, não pelo dinheiro. Hoje em dia são poucas as pessoas que se interessam por esta atividade”, desabafou.